TAS – TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
O
momento pandêmico atual trouxe muitos desafios e questionamentos para a
INSTITUIÇÃO ESCOLAR, dentre eles, destacamos duas perguntas bem objetivas: Como os alunos vão aprender sozinhos? Como
motivar os alunos a aprender?
É
claro que as Teorias de Aprendizagem existentes e têm respostas para as
perguntas acima, de acordo com suas generalizações sobre o ato de APRENDER. Estas
teorias, por vezes, nos são apresentadas nos cursos de Licenciatura e Pedagogia
sem o devido valor transpositivo para o FAZER docente, apenas como suporte
teórico/acadêmico ou como método de aprendizagem na alfabetização. Ouvimos, ainda, da escola, que teorias de
aprendizagem nasceram desligadas da preocupação com o ato de ensinar, isto é,
desligadas da prática didática dos professores, tornando-se ineficazes para a
maioria dos docentes. Por essa e outras situações, as Teorias de Aprendizagem
são, atualmente, pouco estudadas e redimensionadas pela escola, principalmente,
as de Ensino Médio. Todavia, na contramão TEÓRICO/PRÁTICA, a escola vivencia fazeres
didáticos e, paulatinamente, alunos e
professores, descobrem “modos” de
aprender e de ensinar que são mais significativos, mais duradouros. E, sem
necessariamente, conhecerem a TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA, alunos e
professores, no tempo escolar, aplicam conceitos científicos em suas vivências
didáticas.
Invertendo então, a
lógica TEÓRICO/PRÁTICA para PRÁTICA/ TEÓRICO, vamos interpretar alguns FAZERES
DIDÁTICOS, sob a ótica de umas das teorias da aprendizagem, a TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA (TAS):
Fazer didático e aprendizagem significativa |
“Sou professora colaboradora de Língua Portuguesa e esta
atividade foi desenvolvida com o 2º ano do curso Técnico em Agropecuária, em Regime
de Alternância, Campus Almenara, no dia 21 de novembro de 2020. Ao pensar
sobre a atividade, o que realmente me motivou a arriscar nesse formato foi
imaginar que eu fizesse algo que os meninos se envolvessem e que fosse algo,
também, que eles já tivessem certo conhecimento ou algo do contexto deles,
que ficassem à vontade para falar já que teriam que apresentar isso para os
outros colegas. A partir daí, junto aos alunos, foi feito um levantamento de
termos técnicos utilizados em suas comunidades, porém, utilizando,
inicialmente, a forma falada dentro de cada comunidade. No segundo momento,
esses termos trazidos por eles foram organizados em formato de dicionário e,
para cada termo, o termo técnico padrão. O principal objetivo da atividade
que aqui estão chamando de Atividade de Aprendizagem Significativa era
relacionar os conhecimentos dá linguagem coloquial aos conhecimentos da
linguagem culta. O segundo objetivo e, não menos importante, era que os
alunos compreendessem que para cada espaço social utiliza-se uma um tipo de
linguagem que é mais respeitada e mais conduzida pelas pessoas (...)”. (Depoimento da
Profª. Railde Vieira, 2020) |
Interpretando e
teorizando ... |
Quando a professora Railde Vieira diz que
os motivos que a levaram a desenvolver esta atividade estão diretamente
ligados ao interesse e os saberes dos alunos, apontando que os conteúdos
foram propostos, livremente, por eles, de certa forma, garantiria que os
alunos estariam mais interessados a ampliar seus conhecimentos, ligados às
linguagens e seus usos. Você sabia que isto é uma premissa da Teoria
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA, e foi
proposta pelo norte-americano David Paul Ausubel (1918-2008) em 1963, na
obra The Psychology of Meaningful Verbal Learning? Segundo AUSUBEL, o fator mais importante de aprendizagem é o que o
aluno já sabe. Para ocorrer a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos
devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A
aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou
proposições relevantes preexistentes. Este fazer docente possibilitou também um “choque” de conhecimentos ao
relacionar linguagem coloquial à linguagem culta. Com a mediação da professora,
estes conhecimentos prévios foram resignificados pelos alunos quando a
professora mediou assuntos e atividades que evidenciaram a importância do
uso das mesmas nos diferentes espaços
sociais. Para AUSUBEL, a
aprendizagem significativa não está ligada a conhecimentos puramente formais
validados, mas sim, a conhecimentos que são acumulados na estrutura cognitiva
dos aprendentes e que serviram de âncora para os novos conhecimentos.
Completando, o fato de o
conhecimento prévio ser a variável fundamental para a aprendizagem
significativa, não garante que seja uma variável facilitadora para a
aquisição do conhecimento escolar. Pelo contrário, pode até ser uma variável
bloqueadora, caso os significados dos conhecimentos prévios sejam ancorados
em conhecimentos e concepções derivadas, por exemplo, do senso comum. Daí, a
importância da mediação do professor! |
Fazer didático e aprendizagem significativa |
“ (...) A Unidade Curricular Aprendendo a
Aprender em EAD foi, inicialmente, ofertada em junho de 2020 no IFNMG campus
Diamantina, no Núcleo Integrador, para os alunos do Ensino Médio Integrado.
As aulas foram elaboradas e ministradas pelas docentes Denise, Ramony e
eu. Unimos nossos conhecimentos e nossas experiências profissionais no
instituto de, em síntese, preparar nossos estudantes para um novo e
desafiador contexto escolar que exigia entender o significado de ser aluno em
EAD, aprender a desenvolver a autonomia e a melhorar o desempenho nos estudos
através de técnicas. Assim, o objetivo principal foi ajudar os estudantes a compreenderem como desenvolver a independência
nos estudos como aluno de EAD. E, para nossa surpresa, essa experiência foi
tão significativa e bem-sucedida que houve a necessidade de ofertarmos,
posteriormente, mais turmas, envolvendo mais professores para atender a
grande demanda de alunos que desejavam participar. Ouso dizer que criamos uma
disciplina compartilhada em que aprendemos juntos e que, também, contribuiu
para uma aprendizagem significativa dos participantes, pois esses novos
conhecimentos, aliados aos conhecimentos prévios dos alunos,
contribuíram, tanto para a vida escolar, quanto profissional e
comunitária uma vez que são conhecimentos que podem ser aplicados em
contextos diversos, como por
exemplo, para uma melhor organização das atividades diárias através do
desenvolvimento da autonomia e de um melhor aproveitamento do tempo dedicado
ao trabalho e/ou aos estudos. Percebo que a Unidade Curricular Aprendendo a
Aprender em EAD pode ser útil dentro e fora do contexto escolar. Foi uma
experiência exitosa e gratificante para mim! (Depoimento da profª. Katiúscia de Sousa Pereira Silva, 2020). |
Interpretando e
teorizando ... |
A
motivação, ao longo do depoimento da professora Katiúscia, ocupou espaço, tanto
nas atividades docentes, como também, nas atividades participativas
discentes, resultando na ampliação da
Unidade Curricular proposta que objetivava ajudar os estudantes a
compreenderem como desenvolver a independência nos estudos como aluno de EAD;
em outras palavras, ENSINAR APRENDER
COM AUTONOMIA E SIGNIFICADOS.
Como sabemos, o mundo globalizado e o avanço das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação)
desafiam o movimento do currículo escolar, em direção a um FAZER DOCENTE mais
dinâmico e significativo para alunos e professores. Tanto APRENDENTES como
ENSINANTES devem estar motivados NA e PELA ação educativa. Ao ofertar esta Unidade Curricular Aprendendo a
Aprender em EAD, as docentes envolvidas, estabelecerem um diálogo
entre as condições primeiras (cognitivas) do conhecimento em EAD dos alunos e
novos conhecimentos necessários para que estes, em Aulas “Não presenciais,
tivessem mais autonomia em seus estudos e aprendizagens. O currículo escolar
movimentou-se, pois uma NOVA disciplina curricular foi introduzida,
redimensionando o ato de aprender e ensinar, na escola, família e comunidade,
com a introdução ferramentas e medições didáticas. Na TEORIA DA
APRENDIZAGEM SIGNIFICATVA, o currículo deve ser ABERTO, principalmente, na
esfera dos conhecimentos escolares propostos pelas disciplinas curriculares,
e os materiais
de aprendizagem são potencialmente significativos, pois a atribuição de
significado cabe ao sujeito, logo, não há aula, estratégia ou livro
significativo. |
Fazer
didático e aprendizagem
significativa |
“Sou Graziele Santiago da Silva, professora
substituta de Biologia – EBTT do IFNMG - campus Pirapora e apliquei uma
atividade de observação ambiental aos estudantes das quatro turmas de
primeiro ano dos ensinos técnicos da instituição com início das ANP em maio
de 2020. O motivo que me levou a desenvolver a atividade foi a
impossibilidade de fazermos atividades presenciais práticas devido ao
contexto pandêmico enfrentado pelo mundo. Sendo assim, tivemos que ressignificar
as formas de ensino e aprendizagem. Eu, enquanto professora, penso muito em
aplicar os conhecimentos acadêmicos na rotina e cotidiano dos estudantes,
aliando-os aos conhecimentos tradicionais. E foi assim que surgiu a ideia de
observação do dia a dia e registo fotográfico. A aplicação dessa
metodologia foi com o objetivo de entender o que os estudantes avistam ao
redor deles nos quintais de casa, da relação com seus pets, com a família, o
que e onde eles conseguem perceber as interações ecológicas. Dessa forma
resolvi pedir para eles registrarem em fotografia essas interações, aliando
às tecnologias digitais aos conteúdos biológicos. Os estudantes que optaram
por se envolver, elaboram textos curtos individuais explicando as interações
que registraram, em seguida, foram compartilhadas com os demais colegas em um
aplicativo que permitiu as postagens e comentários interativos, uns
comentando na postagem dos outros. Considero que houve aprendizado uma
vez que precisaram observar, questionar se seria uma interação ou não, qual
tipo de interação seria, além de trabalhar a escrita desses processos e
posterior postagem. Houve uma adesão grande dos estudantes e os comentários
nas postagens foram satisfatórios mostrando o empenho para entender sobre o
conteúdo trabalhado. (Depoimento
da Professora Graziele Santiago da Silva, 2020) |
Interpretando e teorizando... |
A
expressão “ressignificar as formas de ensino e aprendizagem”, no depoimento
da professora Graziele, traz um arcabouço teórico interdisciplinar
discutido pela Sociologia da Educação, Didática e a Psicologia da Educação.
Mas, para além das teorias, pensar, propor e produzir novos significados para
os atos de ENSINAR e APRENDER perpassa pela sensibilidade e responsabilidade
do docente quanto ao significado que este dá para a aprendizagem dos seus alunos.
Daí, a pergunta: Como ensinar conteúdos escolares (acadêmicos) de forma significativa
para meus alunos? A professora Graziele já
responde a pergunta acima, com um fazer didático que alia conhecimentos
tradicionais (familiares e comunitários) aos conhecimentos da Biologia e
Ecologia, ressignificando-os, tanto para o aluno, quanto para o docente, que
também aprende nesta convergência de saberes. Ensinar de forma significativa,
pressupõe criar condições de aprendizagens mediadas por símbolos e
significados que apoiam os novos conhecimentos, mesmo que estes ainda não
sejam validados pelos alunos. Segundo a TEORIA
DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA (TAS), a aprendizagem de novos conceitos
deve-se ancorar de alguma forma, aos conhecimentos prévios ou vivências
cotidianas. E isto ocorreu nas aulas de Biologia. Foram os conhecimentos
tradicionais, existentes na estrutura cognitiva e cultural do sujeito, que
permitiram, aos alunos, dar significado a um novo conhecimento, mediados pela
professora ou pela própria inferência do sujeito aprendente. Outro ponto que chama atenção no depoimento
é a sequência didática utilizada pela professora Graziele; deveras importante
para o redimensionamento do que foi aprendido no primeiro momento das aulas.
Na sequência, os alunos desenvolveram projetos de estudo
individuais e coletivos, movimentando seus conhecimentos, onde,
conhecimentos que eram novos, no início das aulas, tornaram-se prévios
(âncoras), para os novos conhecimentos socializados em seminário. Manter o conhecimento em movimento ao longo
das aulas requer, do docente, uma competência didática para “acolher ideias
prévias dos estudantes, ainda que sejam insatisfatórias e, a partir delas,
construir situações de aprendizagem capazes de promover a atribuição de
significados aos temas tratados. (MOREIRA, 2010). |
Bibliografia consultada
AUSUBEL, D. The psychology of
meaningful verbal learning. New York: Grune & Stratton, 1963.
AUSUBEL, D.P. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana,
1980.
BRUNER, J. Toward a Theory of Instruction. Cambridge, MA: Harvard
University Press, 1966
MASINI, E.F.S. Aprendizagem significativa: condições para ocorrência e
lacunas que levam a comprometimentos, 2011.
MOREIRA, M. A. Por quê conceitos? Por quê aprendizagem significativa?
Por quê atividades colaborativas? Por quê mapas conceituais? ; Universidad de
La Laguna. Servicio de Publicaciones, 2010.
NOVAK, J.D. (1981). Uma teoria de educação. São Paulo, Pioneira.
Tradução de M.A. Moreira do original A
theory of education. Ithaca, NY, Cornell University Press, 1977. Aprendizagem
Significativa em Revista, 1 (1), 16-24. Disponível em: <
http://www.if.ufrgs.br/asr/artigos/Artigo_ID2/v1_n1_a2011.pdf >. Acesso em:
13 set. 2017.
POZO, J. I. Teorias cognitivas da
aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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