Formação docente na Educação Profissional e Tecnológica
Por Giuliana de Sá Ferreira Barros /
Pensar na nossa formação docente significa, inicialmente, refletirmos sobre a nossa identidade. Os IF possuem uma episteme própria, ou seja, uma natureza científica e política singular. Diante disso, a docência para a EPT também possui várias particularidades, que perpassam o entendimento da própria distinção da sua modalidade. É um desafio para nós, docentes, compreendermos essa episteme, já que não é tarefa fácil, tendo em vista que a maioria de nós nos formamos em universidades. Entretanto, esse desafio nos é posto para que tenhamos condições de iniciar o processo de dissolução do dualismo em torno da educação, principalmente em torno da educação para a classe trabalhadora.
Partindo do princípio que a profissão docente é complexa, vamos ao encontro do professor Antônio Nóvoa (2000, p. 9), que afirma que “o professor é a pessoa e uma parte importante da pessoa é o professor”. Quando você se apresenta a alguém, o que você diz? Você não diz sua idade, ou onde mora, ou com quem você mora. Você logo diz seu nome e sua função neste mundo. Nós dizemos o nosso nome e dizemos que somos docentes no IFNMG. Veem como a docência é nossa marca, nossa identidade, nossa pele? Pensando em Nóvoa é que entendemos o quanto a docência está presente na nossa vida e o quanto construímos conhecimentos no/e por meio do trabalho.
Paulo Freire disse, certa vez, que “ninguém começa a ser professor numa certa terça-feira às 4 horas da tarde... Ninguém nasce professor (...). A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática” (FREIRE, 1991, p.58). Aqui, Freire não está defendendo uma formação ingênua ou rasa, pelo contrário, ele defende que nós, docentes, estamos mergulhados em um processo de profissionalização que requer formação, autoformação e reflexão sistemática sobre a nossa prática. Esse processo de formação deve fazer parte da nossa prática, não nascemos professores, tornamos-nos professores.
Formamos-nos professores por uma diversidade de instrumentos. Mestrado... Doutorado... Cursos de aperfeiçoamento... Qualificação... Todos são muito importantes, mas não são únicos! Às vezes, esquecemos o quanto a observação, o registro, a escuta, a relação com nossos alunos (como aprendemos com eles!!) contribuem para a nossa formação.
Podemos ser professores reflexivos? Com certeza!! Ser reflexivo requer de nós humildade e sensibilidade. Humildade no sentido de entender que não somos os únicos detentores do conhecimento e sensibilidade, no sentido de estarmos atentos para ver e ouvir o outro, que por sua diversidade, está ao nosso lado para nos ensinar. E aqui, não posso me furtar de citar, mais uma vez, Paulo Freire, quando ele diz que "A educação necessita tanto de formação técnica e científica como de sonhos e utopias" (FREIRE, 2000, p 29).
Nesta direção, a pandemia da Covid-19 veio nos mostrar o quanto somos frágeis e, ao mesmo tempo, fortes. Vejam o quanto aprendemos!! Não foi e nem está sendo fácil, mas estamos resistindo bravamente!! Assim, companheiros, entendemos que este momento tem uma riqueza que não podemos deixar escapar das nossas mãos. É a APRENDIZAGEM, a FORMAÇÃO!! Quem de nós não aprendeu uma coisa nova neste último ano? Vejam como a formação faz parte da nossa identidade docente! Certamente este tempo marcará as nossas práticas e, mais uma vez, invoco Paulo Freire:
É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo… (FREIRE 1997, s.p.)
Esperancemos, olhemos a vida de frente! Temos muito por fazer, temos muito por aprender e por ensinar. Quando pensamos em conceber um texto para enviar a nossos colegas, tivemos por objetivo sair do lugar comum, de falar somente de formação docente (assunto que vocês sabem bem!). Queremos, com este texto, dizer que estamos juntos nessa e que ninguém solta a mão de ninguém. A formação continuada faz parte da nossa identidade como docente. Esperancemos, pois, firmes, rumo à prática pedagógica inclusiva, pela qual todos os nossos alunos tenham acesso ao conhecimento.
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro : Paz e terra. 1997.
FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d'Água , 2000.
NÓVOA, António (coord.). Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 2000.
Vamos juntos esperançar!! Juntos somos fortes e o caminho se torna mais leve e produtivo...
ResponderExcluirVamos sim!!
ExcluirObrigada pela partilha.
ResponderExcluirEu que sou grata!!
ExcluirGiuliana, seu texto traz à tona, a meu ver, um dos aspectos mais importantes para o exercício de uma prática docente que seja significativa, ou seja, a sensibilidade. Sensibilidade pedagógica eu diria, sendo a habilidade/capacidade de compreender o caráter dialógico e interativo do ensinar. Parabéns! (Leo Vieira)
ResponderExcluirOi Leo, que bom que vc enxergou assim, a ideia é essa mesmo. Agradeço o carinho (Giuliana)
ExcluirO professor só pode ser professor se for reflexivo, se não for reflexivo se torna um dinossauro e entra em extinção!
ResponderExcluirVerdade, Danilo. Concordo com vc. Abraços!!
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