Relato de experiência - Metodologias Ativas aplicadas ao Ensino Remoto em disciplinas de Química
Por Pedro Henrique de Oliveira Gomes¹
Durante as disciplinas de Química Geral e Inorgânica oferecidas no Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio e Química do Curso Técnico em Edificações Integrado ao Ensino Médio, ambas com turmas de 1ª séries, no IFNMG - Campus Montes Claros, buscamos aplicar princípios de metodologia ativa no Ensino Remoto, ou, como denominamos na instituição, “Atividades não Presenciais”.
As disciplinas tinham basicamente o seguinte roteiro: atendimento
inicial, no início da semana, estudo através das videoaulas e textos; um
segundo atendimento virtual para discussão dos conteúdos, realização de uma
atividade e socialização no “mural” da disciplina. Sendo que os dois
atendimentos realizados, aconteciam de forma síncrona com gravação e publicação
na sala virtual.
Nos atendimentos iniciais, que
ocorriam nas segundas-feiras, buscávamos tirar dúvidas residuais dos conteúdos
abordados na semana anterior e apresentação do conteúdo que seria abordado na
semana em questão, assim como apresentação e esclarecimento sobre as atividades
propostas.
Em seguida, segundo a proposta das
disciplinas, os/as discentes deveriam assistir as vídeoaulas e ler os textos
disponibilizados na sala virtual, para que num segundo atendimento realizado,
nas quarta-feiras, pudéssemos discutir e esclarecer as dúvidas relacionadas aos
conceitos abordados. Vale ressaltar que as videoaulas eram disponibilizadas via
plataforma Edpuzzle, uma vez que essa
possibilita adicionar comentários e perguntas ao longo do vídeo, e só continua
após o/a discente responder; em alguma medida, isso promove uma interação com o
conteúdo. Além de fornecer um relatório com informações sobre quem assistiu, o
quanto assistiu e os resultados das respostas, sendo integrado ao Classroom, de forma que a nota tirada é
exportada automaticamente. A ferramenta não possibilita ao/à discente assistir
ao vídeo em modo acelerado e o obriga a ter que ficar com a “aba” ativada para
a continuidade do vídeo.
Como forma de instigar a
materialização e, consequentemente, maior reflexão sobre os conteúdos abordados
na semana, trabalhamos com a produção de e-portfólios.
Para este, o/a discente deveria construir, ao longo da disciplina, uma
"página" via Google Site ou
Padlet com discussões, resumos, mapas
mentais, indicação de vídeos, enfim, o que o/a discente quisesse colocar sobre
os conteúdos abordados, assim, como outras atividades propostas em cada semana.
Sempre trabalhando questões como “pesquisar” e “compartilhar” como norteadoras
no processo virtual de aprendizagem.
No Campus Montes Claros, as
disciplinas foram ofertadas em dois módulos, sendo que cada módulo tinha 5
semanas, em que trabalhávamos os
conteúdos nas quatro primeiras semanas e na quinta fazia-se uma revisão das
semanas anteriores, enquanto aplicava-se
as Recuperações Parciais. As atividades propostas em cada semana do primeiro
módulo da disciplina foram:
●
Semana 1 - foi proposto aos/as discentes que gravassem
um vídeo, através da plataforma Flipgrid,
apresentando algum objeto ou material que tivessem em casa, ressaltando suas propriedades
físicas e químicas.
●
Semana 2 - os/as discentes tiveram que descrever algum
processo químico presente em seus dia-a-dias.
●
Semana 3 - foi proposta a elaboração e produção de
mapas mentais sobre estruturas atômicas.
●
Semana 4 - foi aplicada uma avaliação pelo Google Forms.
●
Semana 5 - revisão e recuperação parcial
Já no segundo módulo, após pesquisa realizada com os discentes,
verificamos que a diversidade de ferramentas e propostas estavam
sobrecarregando-os/as, sendo assim, passamos a trabalhar apenas com elaborações
de mapas mentais. Mas, continuamos com a construção e alimentação dos e-portfolios, em que cada discente fazia
de acordo com suas condições, respeitando a subjetividade e a individualidade
escolar e social de cada um/a.
A fim de possibilitar uma socialização e maior interação entre os/as
discentes, foi disponibilizado um “Mural da Disciplina”, pela plataforma Padlet, em que estes e estas faziam
postagens diversas durante toda a disciplina, desde um post se apresentando, na
primeira semana, até indicações de materiais de estudos e o link de seus
e-portfólios.
Por fim, no intuito de possibilitar um maior engajamento com o conteúdo, foi
utilizada uma plataforma de gamificação, chamada Classcraft, em que era possível o/a discente “caminhar” pela
disciplina ao mesmo tempo que melhorava seu avatar (um guerreiro, um mago ou um
sacerdote) escolhido e configurado por eles/as. Nesta, através de uma história
como “pano de fundo”, os personagens teriam que vencer missões e objetivos,
sendo que estes eram integrados a sala virtual, Classroom. Sendo assim, conforme realizavam as missões e objetivos,
eles/as conquistavam pontos de experiências que poderiam ser trocados por
acessórios novos e habilidades aos seus avatares.
Ao final da disciplina, foi realizada uma pesquisa com os/as discentes em
que verificamos a aceitação com relação às ferramentas utilizadas e suas
avaliações com relação à proposta pedagógica. Assim, com exceção do Flipgrid, todas tiveram uma aceitação em
torno de 75% ou mais. Quanto a influência destas em suas aprendizagens, a
maioria apontou que todas contribuíram para uma melhor compreensão dos
conteúdos. E, por fim, 90% dos/as participantes aprovaram a utilização do tempo
dos “atendimentos virtuais” para tirar dúvidas e discutir os conteúdos, ao
invés de “dar aula”.
Abaixo seguem alguns comentários de alguns/as discentes:
“O E-portfólio tem ajudado bastante em
resumos, e o Classcraft tem contribuído como um lembrete de atividades, além de
deixar as aulas divertidas.”
“Gostei muito de como a disciplina foi
desenvolvida, as plataformas que foram utilizadas e os atendimentos
contribuíram muito. A organização foi excelente, deixando tudo muito claro e de
fácil compreensão.”
“Eu particularmente amei muito, porque eu
consegui aprender mais do que eu esperava, acho muito importante o uso de todas
essas ferramentas porque elas contribuem bastante para o aprendizado, além de
nos deixar mais animados e preparados.”
“A organização, distribuição de atividades,
de nota e conteúdo foram incríveis, apesar de que eu gostaria de um pouco mais
de tempo para absorver determinadas matérias, o que é uma deficiência da
própria modalidade de ensino. As videoaulas foram muito efetivas,
principalmente quando somadas ao material escrito, e a plataforma Edpuzzle me
ajudou muito nas aulas (pode colocar mais perguntinhas de múltipla escolha nas
aulas, me ajudam a prestar atenção). Também gostei muito da proposta do
e-portfólio, mesmo que seja trabalhoso, aprendi bastante escrevendo nele.”
Exemplos
de e-portfólios:
● https://sites.google.com/view/portifolio-maria-luiza/p%C3%A1gina-inicial
● https://sites.google.com/view/e-portflio-ana-luiza/p%C3%A1gina-inicial
● https://padlet.com/floraalkmim2906/uk6dwsnl9c84j2x
● https://sites.google.com/view/portfoliodajulia/p%C3%A1gina-inicial
Apesar da desigualdade social e tecnológica ainda bastante marcante, em
que alguns/as discentes tiveram dificuldades em acessar e realizar uma
atividade ou outra, é necessário ressaltar que ficamos muito satisfeitos e
admirados com os trabalhos e evoluções demonstrado por todos e todas.
O grande desafio que enfrentamos nesse percurso tem a ver com os outros
papéis que tivemos que assumir, de um professor gestor e orientador de trilhas
de aprendizagens individuais e coletivas, muitas vezes, imprevisíveis, que
exigiram, também no processo, uma aprendizagem constante para pensar possibilidades
mais flexíveis e criativas que os envolvessem e favorecem a aprendizagem do
conteúdo. Embora, tenha sido uma escolha mais aberta e dinâmica, por isso
mesmo, demandando mais energia, foi também um processo mais prazeroso que
possibilitou uma aprendizagem mais autêntica e autônoma às/aos discentes.
¹ Professor EBTT da área de Química,
efetivo no IFNMG - Campus Montes Claros. Licenciado em Química (UFLA),
Especialista em Psicopedagogia (FUNEDI/UEMG) e Mestre em Biocombustíveis
(UFVJM).
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