A ESCOLA SÍNTESE: ENTRE O ENSINO PRESENCIAL E O ENSINO REMOTO

 

Fonte: https://pt.dreamstime.com/foto-de-stock-professor-do-computador-com-quadro-negro-image7846590


Professora / pesquisadora: Tânia M. Mares Figueiredo

Depois de 40 anos dedicados à educação: na docência, na gestão e na supervisão educacional, eis que me deparo experimentando, na primeira, o ensino remoto e, com ele, as ferramentas das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs - e a complexidade da internet. Comecei a pensar: “o que acontecerá depois desse momento?”

É claro que não posso negar que muitos foram os desafios e, com eles, as inseguranças, o desânimo, a apatia que povoaram os momentos entre uma aula e outra em que vi, apenas, retratos e gravuras representando os estudantes. Do outro lado, estava eu, tentando estabelecer um diálogo, uma interação que, aos poucos, perdia lugar para a interatividade.

À medida que os estudantes aprendiam a lidar com a nova sala, a lidar com o novo jeito de aprender, eu também estava aprendendo uma nova forma de ensinar e, ainda que discordasse dela, teria que continuar porque era assim que deveria ser visto que os estudantes não poderiam ficar por tanto tempo sem levarem adiante seus estudos. E, assim, seguiam-se os meses.

Os estudantes, em diálogos rápidos e curtos, relatavam que estavam aprendendo, então, mesmo sabendo que esta percepção não era generalizada, comecei a me atrever a experimentar um novo tipo de trabalho em grupo, uma nova forma de teste escrito, um seminário mais aberto. Comecei a dilatar o tempo e vi que este era subjetivo. Por isso, não dava mais para estabelecer um limite rígido para a aula, em um único formato, pois esta tomou um “novo corpo”, com novas características e, consequentemente, também o seu decurso era diferente.

Outra coisa interessante é que, agora, o ato de ensinar passou também a não ser só de minha responsabilidade. Comecei a entender que as redes sociais ensinam e podem ser usadas para reforçar as aprendizagens escolares; que os conhecimentos da cultura de massa podem e devem ser trabalhados e aprofundados em discussões no Classroom.

Também aprendi que a dinâmica do Classroom está para além das horas-aula síncronas e assíncronas planejadas. Que o tempo da aula é subjetivo e que os conteúdos conceituais e procedimentais devem ser planejados com a participação dos estudantes a fim de possibilitar maior interesse da turma, que passa a ter lugar nos planos de ensino quando indica conteúdos contextualizados e opina sobre formas de aprender.

Nesta dinâmica, o ensino e as aprendizagens não ocorrem mais de forma bilateral (PROFESSOR/ALUNO ou ALUNO/PROFESSOR) como na classe presencial. Agora, acontece em espiral, onde tempos e espaços de ensino passam a ter novos atores que não são docentes, mas ensinam, ou melhor, criam condições para que o outro aprenda.

Da mesma forma, tempos e espaços das aprendizagens são experimentados, ampliados e recriados e, em meio à insegurança didático-pedagógica do docente, brotam ações protagonistas dos estudantes e novas metodologias de ensino e autoaprendizagens. Estas ações representaram para mim certo rumo e rivalizaram com a insegurança, apontando certa direção que acabou por significar novas expectativas no meu saber e fazer didático-pedagógico.

E aqui estou eu, com uma nova roupagem pedagógica em que aprendi muito mais com os estudantes do que com os livros. Hoje, dialogo, didaticamente com as TICs adaptando e remanejando saberes docentes da ESCOLA do ENSINO PRESENCIAL para o Classroom. E, mesmo ainda insegura, no ensino remoto, me atrevi a superar a predominância da interatividade, investindo na interação. E arrisquei... aprendi a aprender e creio que ensinei a aprender.

Na contramão do isolamento social, busquei a humanização e a solidariedade no ensino remoto, organizando GETECs (Grupos de Estudos e Trabalhos Técnicos). Assim, envolvi estudantes em atividades diversificadas e integradoras, nas quais o ensino entrelaçava com a pesquisa e com ações de extensão na família.

E assim, fomos construindo, na pandemia do COVID 19, um novo jeito de ensinar e aprender que, aos poucos, foi se desprendendo da antiga regra da ação educativa da escola presencial - PROFESSOR ensina e o ESTUDANTE aprende - para um novo movimento das aprendizagens. Neste, a pesquisa antecede o ensino do professor, estudantes ensinam estudantes, professores aprendem a ampliar a aula e a sala de aula com o uso de metodologias ativas.

Para muitos, este foi um momento de ruptura obrigatória com o antigo modelo PROFESSOR ENSINA / ALUNO APRENDE. Ao se depararem com a barreira do encontro físico, foi ainda necessário um tempo para que houvesse a assimilação do isolamento imposto pelo momento pandêmico.

Passado o impacto inicial, foi hora de alinhar as inquietações . existentes à possibilidade concreta de aproximação com o formato online e colocá-lo em prática. E, ainda, levar em consideração que fazíamos parte de um conjunto maior enquanto instituição, ou seja, minhas ações, juntamente aos alunos, faziam parte de uma estrutura escolar e, portanto, não aconteceriam de forma isolada, restrita ao “nosso” universo.

Sendo assim, nos vimos com a demanda de pensarmos em uma nova estrutura não somente para as aulas, como também para os PPCs e Planos de Ensino, pois, para a utilização das Novas TICs, este também deveria atender à comunidade escolar através de um ensino não presencial.

É deveras certo que o ensino remoto muito me ensinou. Todavia, não há consenso na escola de que esse momento pandêmico gerou, e gera, possibilidades de abertura do currículo. Muitos professores se contrapõem à ideia de que o ensino remoto trouxe inovação para as aprendizagens, também,entendem que estamos no pior momento da educação e que a escola pouco elaborou, ficando atrasada na sua função de ensinar.

Discordo deste ponto de vista porque aprendi muito no ensino remoto.Fui me refazendo como professora em cada aula síncrona e/ou assíncrona e, da mesma forma, a escola também foi se reorganizando a partir dos desafios e das possibilidades didático-pedagógicas advindas do momento pandêmico.

Usando um pouco da dialética de Hegel, creio que uma nova escola está sendo desenhada, a Escola SÍNTESE, como superação do ensino presencial e para além do ensino remoto. Alguns já a estão chamando de Híbrida, outros chamam de Nova EAD (Educação a Distância) e há, ainda, quem chamará de semipresencial ou presencial com tecnologias digitais.

Apesar disso, e considerando que nomenclaturas e modelos não faltarão para denominá-la e representá-la, convém refletir sobre esta ESCOLA síntese, resultado do confronto e da integração do formato presencial do ensino, que aqui chamo de escola TESE, e do ensino remoto, que é a antítese do que vivenciávamos na escola antes da pandemia do COVID 19.

Confesso que VIVI e APRENDI neste tempo pandêmico! E que na caminhada docente, aprendo a APRENDER com a escola, com o mundo e com você!

Vamos dialogar sobre o que aprendemos à aprender no Ensino Remoto?


Contribuições das professoras Dayse (campus Diamantina), Cláudia (campus Almenara) e do professor Ricardo (campus Salinas)



Comentários

  1. Ouvi falar sobre os GETEC's durante um dos Seminários Integradores (Ensino, Pesquisa e Extensão), no seu formato VIRTUAL, em 2021.

    SAIBA MAIS e veja o Mapa Conceitual em https://guiacurriculoalternancia.wordpress.com/seminario-integrador-ensino-pesquisa-e-extensao/

    O Seminário Integrador surgiu de uma demanda das mediações didático-pedagógicas da Pedagogia da Alternância: O Plano de Formação. O objetivo é trazer demandas do Plano de Formação e dúvidas dos alunos e que tem relação com questões técnicas de agricultura e pecuária.

    Os alunos são orientados a trazer questões que os incomodam no trabalho com seus pais na propriedade da família e na vida cotidiana em suas comunidades. Daí, aprofundam os estudos com base em temáticas relacionadas às questões por eles trazidas. Assim, os Seminários Integradores garantem aos alunos do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, em Regime de Alternância o “acesso aos conhecimentos socialmente construídos, tomados em sua historicidade, sobre uma base unitária que sintetize humanismo e tecnologia” (RAMOS, 2003 p. 4).

    “A ampliação de suas finalidades, dentre as quais se incluem a preparação para o exercício de profissões técnicas, a iniciação científica, a ampliação cultural, o aprofundamento de estudos, é uma utopia a ser construída coletivamente” (RAMOS, 2003 p. 4).

    Essa é a utopia de um Ensino Médio que desenvolve as possibilidades formativas. Para Ramos (2003), um projeto de Ensino Médio com identidade unitária e contempla as múltiplas necessidades sócio-culturais e econômicas dos sujeitos de direito que cursam esta última etapa da educação básica é um desafio possível de ser vencido se for trabalhado de forma coletiva.

    A inclusão de questões não previstas na Matriz Curricular, mas que são demandas do Plano de Formação é uma forma de integração curricular semelhante dialogicidade da educação tão defendida por Paulo Freire.

    Tal como uma dobradiça, facilita a abertura da compreensão de questões num conjunto de unidades temáticas que só o povo tem condições de compreender devido a sua visão de mundo. Daí, mesmo que não esteja na Matriz Curricular, estes “temas dobradiças” têm um “rosto de unidades temáticas” (FREIRE, 1987 p. 73).

    Em 2020, devido o contexto pandêmico e de aulas não presenciais, o Seminário Integrador passou a ter um formato virtual. Seu nome foi alterado para Projeto Politécnico. Uma equipe formada pela Coordenação do Curso e professores da área técnica criou condições para que os alunos construíssem um Projeto de Pesquisa com base em demandas da sua comunidade.

    ACESSE o tutorial para a construção de um Seminário integrador ou projeto politécnico no site: https://guiacurriculoalternancia.wordpress.com/seminario-integrador-ensino-pesquisa-e-extensao/




















    ResponderExcluir
  2. As TICs e metodologias ativas conhecidas por pouquíssimos educadores (estavam escondidinhas, na justificativa de falta de recursos e formação) precisam agora resgatar uma visão positiva como diz o texto. A forma abrupta como foi inserida tem sido associada a um tempo doente que não queremos mais reviver. E todas essas formas novas de ensinar, que estavam escondidinhas nos sistemas de informação mostraram que o conhecimento realmente está acumulado e organizado em gavetas, além de termos que abri-las, seria bom que esse momento ensinasse que o conhecimento precisa ser compartilhado. Coisa boa que precisa ser informada, guardá-las, para quê? As vezes não saberemos nunca que existem, como procurar o que não se sabe que existe?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA (TAS): UM DIÁLOGO NECESSÁRIO NO ENSINO MÉDIO

Alguns olhares sobre a educação no contexto da pandemia: tecnologia e inclusão - diálogos necessários.

Formação docente na Educação Profissional e Tecnológica